domingo, 23 de agosto de 2009

Felicidade Clandestina

Sabem quando adiamos alguma coisa para nos sentirmos no poder?
Foi assim que me senti de manhã. Adiei apenas para poder ter no pensamento que era eu quem decidia o que sentir. O poder para dizer que nada avançava pelo simples facto de que não havia acção.
Não ia haver a ânsia, a espera, os pensamentos inúteis.
Mesmo sabendo que tudo isso podia acontecer depois.
Repetia na minha cabeça:
“Ana não passas por nada disso neste momento porque não tomaste a decisão, porque podes fazer isso, porque tens todo o tempo”
E então enchia o peito de ar e ficava naquele “ vai que não vai" quase eterno.



Isto fez-me lembrar um conto que li há algum tempo:
Felicidade clandestina by Clarice Lispector
Ela inventava de tudo para adiar a leitura do livro que tanto desejava ler só para poder sentir aquele desejo durante mais tempo. Ela fingia perdê-lo só pela alegria de o encontrar.

Eu era uma rainha delicada. Ás vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "O desejo por poder leva a um encontro de sensações e sentimentos, mas também pode tornar-nos cegos. É como a ânsia de crescer de uma criança, que tudo faz para envelhecer; ou como o velho que busca sempre uma maneira de se tornar mais novo. São impossiveis que, quando se tornam reais, só com reflexão os controlamos e somos plenos."

    24 de Agosto de 2009 9:39

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